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Curso transforma a vida de jovens no meio rural do sul da Bahia
Mudar de vida, melhorar a produção e a produtividade de suas roças, desenvolver atividades ligadas à agroecologia. Ou apenas fixar-se no campo, com qualidade de vida. Esses são alguns dos motivos que levam jovens do meio rural a procurar o curso Jovem Empreendedor, que está sendo realizado pela Ceplac em Barro Preto, no Assentamento PA Brasil. A iniciativa é da Ceplac, em parceria com o Senar/Faeb, MDA, Banco do Nordeste, IF Baiano, Sindicato de Produtores Rurais, Sindicato de Trabalhadores Rurais, Prefeitura Municipal e Mars Cacau.
São 34 jovens, moradores de assentamentos e de fazendas da região, que após frequentarem o primeiro módulo – teórico e prático – estão em suas residências, coletando dados de campo para a etapa seguinte, que acontece na próxima semana. A adolescente Tailane dos Santos Godinho Rodrigues, de 16 anos, moradora da zona rural de Barro Preto, queria ir para a cidade para ser advogada, mas descobriu sua verdadeira vocação quando recebeu treinamento na fazenda de seus pais sobre compostagem, ministrado por outra adolescente de sua comunidade, que fez o curso da Ceplac em outra edição.
“Quando vi o que ela aprendeu e sua preocupação de nos passar seus conhecimentos, descobri que era aquilo que eu queria”, afirma Tailane. Ela se refere a Maria Natiele Santos Rodrigues, que tinha o mesmo sonho de ser advogada e hoje é liderança comunitária na Associação dos Produtores da Pedra Lascada.
O curso é uma estratégia para desestimular a migração dos jovens para para o meio urbano, o que desestabiliza o processo de sucessão rural. “Essa é uma das grande preocupações da Ceplac e dos órgãos de governo que lidam com o homem do campo: estimular seus filhos a permanecer na zona rural, mas dando a eles condições de trabalho, crédito – inclusive imobiliário – e tecnologia para realizarem suas atividades e viverem com dignidade”, destaca o superintendente da Ceplac na Bahia, Juvenal Maynart Cunha.
De acordo com o chefe do Centro de Extensão (Cenex) da Ceplac, o engenheiro agrônomo Sérgio Murilo de Menezes, a Ceplac trabalha na perspectiva do fortalecimento da agricultura familiar, sem deixar de lado a questão da sucessão rural. “Isso está sendo compreendido por esses jovens. Temos estimulado a constituição de empreendimentos produtivos e a resposta está sendo muito boa”. O curso está formando sua oitava turma.
A agente de atividades agrícolas Célia Watanabe diz que a estratégia de montar os cursos em locais como o assentamento PA Brasil favorece a integração dos jovens, já que ali eles se sentem “em casa”, o que os ajuda a superar dificuldades de adaptação. “Quando propomos atividades de campo, eles têm auxílio da própria comunidade. Vale lembrar que é um grupo previamente selecionado e só está no curso quem realmente tem interesse em desenvolver atividades empreendedoras no meio rural”.
Ela observa que o grupo é bastante heterogêneo, no que diz respeito às pretensões, embora formado por jovens da zona rural. “Uns se credenciam porque queriam aprender técnicas específicas dentro de suas atividades, outros querem acessar programas governamentais e financimentos, outros pretendem desenvolver atividades associativistas. No fim, todos recebem o mesmo conteúdo e saem com uma bagagem teórica e prática muito maior do que a expectativa inicial”.
Voz da experiência - Outra estratégia dos organizadores é levar para convivência com os novos alunos, outros participantes que já fizeram o curso e de uma forma ou de outra obtiveram sucesso em suas atividades. É o caso da própria Maria Natiele Rodrigues. Ela relatou na sala de aula sua trajetória, desde quando não queria mais morar na roça, por vergonha e medo da rejeição de outros jovens, até hoje, quando desistiu da advocacia para fazer o curso de Técnico Agrícola do IF Bahia, em Uruçuca.
“Aprendi a fazer a compostagem, ensinei a todos em minha comunidade. Hoje, temos uma associação que vende produtos de nossas próprias hortas, temos renda e estamos evoluindo. Já temos até uma loja da associação no centro de Barro Preto”, contou Natiele.
Quem também deu seu testemunho foi o jovem Fábio Gonçalves Rodrigues, que depois do curso, ajuda a organizar os produtores da Associação de Ribeirão Seco. “Antes, eu queria sair de lá, tive vários convites de emprego, até para Santa Catarina, Minas Gerais”, conta. ‘Balançado’, soube do curso em maio desse ano. “Já saí de lá com uma visão diferente. Hoje vejo que sempre tive as condições ideais de vida em minha comunidade. Participo de uma associação de produtores, onde sou tesoureiro, e faço parte de uma cooperativa”, analisa.